sábado, 14 de março de 2009

Speeder Questiona... Ylan Marcel (Motorizado)

O meu convidado de hoje é como eu, um profissional da comunicação, e um especialista de automobilismo. Aos 27 anos, e a viver na Barra da Tijuca, uma das zonas míticas do Rio de Janeiro, Ylan Marcel começou em 2002 a ganhar experiência no jornalismo universitário, na Universidade Candido Mendes, a trabalhar no jornal “O Canhoto”, onde era sub-editor da área desportiva. A partir de 2005, e durante mais de um ano, trabalha no site F1 na Web, do jornalista Ricardo Perrone, onde tratava das notícias diárias, além de transmitir corridas em tempo real e manter uma coluna quinzenal. Graduado em 2006, voltou recentemente aos estudos para fazer pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte.

Enquanto isso, em 2008 decide criar o seu blog, o Motorizado, onde trata de abordar quase todas as categorias do automobilismo de um modo que vá para além da simples noticia. Em Novembro, transferiu o blog para a plataforma Wordpress, onde ainda se mantêm. E agora, é o meu convidado no “Speeder Questiona…” deste Sábado.

1 – Olá, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?

Como jornalista, achei que precisava de um espaço para apresentar textos e outras habilidades, como edição de imagens e vídeos. Então, juntei minha maior paixão à profissão.

2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?

O nome precisava ter algo relacionado ao automobilismo. Achei que “Motorizado” daria uma boa impressão. Um título simples e que reúne, ao mesmo tempo, velocidade e ação. Preciso fazer justiça aqui e dizer que foi o arquitecto e “cartoonista” Rodrigo Figueiredo quem idealizou o banner e o slogan: “Detalhes do automobilismo. E em detalhes”. Agradeço a ele pela melhorada na aparência do blog.

3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?

Trabalhei entre 2005-06 no site F1naWeb, do jornalista Ricardo Perrone. Era um dos responsáveis por abastecer o site com notícias de diversas categorias diariamente. Também transmitia corridas em tempo real, além de manter uma coluna quinzenal.

4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?

Não sou muito bom de datas. Na verdade, o endereço inicial do Motorizado era http://www.motorizado.zip.net/. O blog continua on-line, para aqueles que quiserem ver meus textos antigos. Comecei em meados de 2008, mas não divulgava. Quando migrei para o WordPress, em Novembro, tive acesso a um contador mais fiável, que não registra os meus próprios acessos. Até então, são quase 6.000 pageviews. Não sei se isso é bom ou ruim, mas não é o que mais me importa no momento. Sei que tive um pico de 271 visitas num só dia, o que me deixou animado. Mantive uma média de 200 visitas antes do Carnaval, mas na semana do feriado ela caiu para 100. Enfim, acredito que só no início da temporada da F1 é que os números aumentarão para valer. E a partir daí, terei uma ideia do número de pessoas que o Motorizado está atingindo. Por enquanto, estou me divertindo. E adorando esta brincadeira… (risos).

5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?

Existem alguns especiais, daqueles que você lê e pensa: “Nossa, mandei bem”. Mas o auto-elogio é sempre perigoso e, por isso, prefiro que os outros o façam (ou não) na parte dos comentários.

6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?

Creio que não seja só uma questão de escrita. O blog e a internet, de uma maneira geral, nos permite uma diversidade de linguagens e procuro utilizá-las no Motorizado. Sempre ao final de cada sessão de testes, treinos ou corridas, busco trazer aos leitores um post com foto(s) e outro com vídeo(s) do evento. Às vezes, não basta descrever uma ultrapassagem. É preciso mostrar como foi. Digo isso porque conheço o público que curte automobilismo. Eles gostariam de ir às provas da F1, da Indy, NASCAR, MotoGP, etc. Mas é tudo muito caro e longe. Além disso, poucas pessoas têm acesso à TV a cabo no Brasil, que ainda é um serviço muito caro. Então, perdem a oportunidade de ver as corridas que gostam. O Motorizado tenta, de alguma maneira, oferecer um pouco da emoção das corridas a essas pessoas. Não me limito apenas a resultados oficiais e declarações de pilotos. Outro diferencial do Motorizado é a extensa lista de links na barra lateral da página. Lá tem sites de equipes, pilotos, categorias, circuitos, etc.

7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?

Além do Motorizado e o Continental Circus? rs... Existem vários com bom conteúdo e atualizações constantes. Porém, a maioria dos blogs anda apenas reproduzindo as notícias dos grandes sites, deixando de lado a opinião e a análise, que, em minha visão, é a essência deste canal. Portanto, para ser sincero, não me prendo a um ou mais blogs específicos para visitá-los diariamente. Faço isso com sites de notícias, como o Autosport e o F1-Live.

8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?

Vou te decepcionar. Não! Lembro de flashes de corridas que assistia na infância, na época do Piquet e do Senna, na década de 80. Mas qual, exatamente, foi a primeira corrida que assisti ao vivo e na íntegra, não lembro. Já tentei puxar pela memória, mas não veio, mesmo.

9 – E qual foi aquela que mais te marcou?

Sem dúvida, Ímola-94. Lembro que as temporadas de 1992-93 eu não acompanhei com tanto afinco. Naquela época, assistia às corridas apenas para torcer pelo Senna com a minha mãe. Como nessas temporadas a McLaren estava mal, me desmotivei. Em 94, com ele indo para a Williams, decidi que iria voltar a ver. Porém, perdi a primeira corrida em Interlagos, porque saí para almoçar com a família no Domingo. A segunda prova foi em Aida, no Japão, de madrugada. Não tinha o hábito de ficar até tarde para ver F1. Então, não vi também. Eis que chega a terceira etapa da temporada, em Ímola. Não costumava ver treinos e fiquei sabendo dos desastres de Barrichello e Ratzemberger pelos noticiários da TV. Já a corrida, foi aquela agonia. Para você ter uma ideia, pensei que a Fórmula 1 deixaria de ser disputada por causa da morte do Senna. Ele representava muito para todos nós, para o universo da velocidade. O governo brasileiro decretou luto oficial de três dias na época. Porém, é (também) devido a sua morte que a categoria alcançou o nível de segurança e profissionalismo que vemos hoje. Como se pode notar, em toda situação, por pior que ela seja, podemos tirar coisas boas. Senna, além de génio, era um homem a frente de seu tempo. Muitas das coisas que ele exigia, na época, eram motivos de desdém do Sr. Max Mosley, presidente da FIA. Hoje em dia, estão nas entranhas da categoria e ninguém se atreve a demovê-las. A questão da segurança é o maior dos exemplos. Era uma luta que Senna travava praticamente sozinho.

10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?

As entrevistas do Piquet são as melhores. Mas, como piloto, Ayrton Senna foi mais rápido e, como pessoa, carismático. O Fittipaldi tem uma história mais brilhante, pelo conjunto da obra. Foi campeão na F1 e na F-Indy, além de vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Ele foi o desbravador brasileiro em ambas as categorias.

11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?

Sim, já deveria ter sido em 2008. Mas não acho que Massa conseguirá, jamais, ocupar um lugar no coração dos brasileiros como estes três. Atualmente, o mundo gira numa velocidade tão alta que quem é ídolo hoje, amanhã já está no esquecimento. Não sei se é uma visão particular minha. Mas vejo as vitórias de Piquet e Senna como épicas. Já as de Rubinho e de Massa, apesar do mesmo tema da vitória da TV Globo, parecem carecer daquele algo mais. Não são emocionantes. Isso é reflexo do mundo em que vivemos. A velocidade da informação cada vez maior deixa os pequenos detalhes de lado e transforma a todos nós apenas em receptores de informação e não de emoção.

12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?

Seu estilo de pilotagem parece mais com o do Senna em início de carreira. Muitos erros bobos (como em Melbourne e Sepang no ano passado) combinados com ultrapassagens de tirar o fôlego (na largada de Hungaroring, também em 2008). Já as suas entrevistas conseguem ser mais sonolentas que as de Fittipaldi. Muito polido, também por causa do contrato rígido que tem com a Ferrari, o que impede o público e os fãs saberem, de fato, o sentimento dele após uma tremenda manobra ou uma “vexaminosa cagada”. Ele sempre diz que “temos um carro competitivo” e “tentaremos o melhor resultado possível”. Ah, faça-me o favor... Outro dia vi o Hamilton dizer que o Raikkonen não tinha colhão para dividir uma curva. Ou o Vettel dizendo que ”sentia as bolas do saco rasparem no asfalto quando contornava a Eau-Rouge”. Puxa, isso sim, são entrevistas e declarações! (risos)

13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?

Hamilton somou mais pontos e “só” por isso foi campeão. Creio que o título de 2008 ficará marcado como aquela conquista em que o campeão errou menos que seus adversários. Ainda assim, Lewis não foi espetacular, visto que quase entrega o ouro novamente no final. Seus erros foram vários: no Bahrein, onde decolou em Alonso; no Canadá, onde protagonizou um lance amador com Kimi Raikkonen, no pit-lane; na França, onde foi punido por ultrapassar o Vettel por fora da pista, além da corrida burocrática em Interlagos. Também errou na largada de Fuji, atrapalhando a prova de metade do grid. Hamilton tem qualidades e para sempre será um campeão mundial de Fórmula 1. James Hunt, Keke Rosberg e Damon Hill também o foram, o que não denota no título um grau de genialidade. Mas ainda não o vejo como um dos grandes. Trata-se de um bom piloto. Apenas. Vale lembrar que é jovem e pode evoluir.

14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?

Michael Schumacher. Não há como negar os feitos deste cidadão em sua carreira na Fórmula 1. Nunca torci por ele, nem, muito menos, fui seu fã. Mas, se você fizer um apanhado histórico, o alemão está em primeiro em quase todas as estatísticas. Ainda que escolher o melhor, maior ou mais marcante da história, exija cuidados e considerações especiais. É impossível comparar a Fórmula 1 de hoje com a da época de Senna. Ou com as épocas de Emerson, Clark, ou Fangio. Esses foram os melhores enquanto estiveram nas pistas. Assim como Michael. Cada um em seu tempo.

15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?

Nos últimos anos, tenho me apaixonado pela NASCAR. É impressionante como um bloco de 25/30 carros consegue dividir, numa velocidade superior a 300km/h, em filas de três ou quatro carros, aquelas pistas inclinadas. A MotoGP também me encanta, apesar do domínio de Rossi. Costumo acompanhar as três categorias. Pena que a emissora que tem os direitos de transmissão da categoria aqui no Brasil, não passe também os treinos. Já a F-Indy está no sangue, desde a década de 90, quando o SBT passava as provas. Curti muito os títulos do Gil de Ferran, Cristiano da Matta e Tony Kanaan nos últimos anos. Lembro de ter faltado a uma decisão de campeonato do nosso time de pelada, no Aterro do Flamengo, em 1996, para ver uma corrida. Meu primo Luciano até hoje lembra desta passagem e me condena. Afinal, eu era o goleiro e, sem mim, o time levou uma surra… (risos)

16 – E achas que vale a pena falar sobre ele no teu blogue?

Claro. O Motorizado é um blog para o público do automobilismo. Aqueles que vierem em busca de uma cobertura específica em Fórmula 1 irão se desiludir. Fórmula 3, A1GP, WTCC, dentre outras categorias menos apreciadas, também terão espaço por lá.

17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?

Sim! Uma Renault R26 de Fernando Alonso. O carro do bicampeonato do asturiano. Além disso, também possuo, na casa de meu pai, uma Ferrari F2005 de Michael Schumacher.

18 – Passando para a actualidade: de repente, a Honda anuncia a sua retirada da Formula 1. Como sentiste isso?

Inicialmente, me surpreendi. Logo quando contrataram Ross Brawn, pularam fora? Mas é compreensível. Os resultados estavam ridículos. Como sempre, aqueles carros do Geoff Willis não andam nada. Era assim na Williams, quando ele produzia aqueles horrorosos “caixotes voadores” de 2001 até 2003... Mas o problema não era só Willis. Acho que as equipes japonesas não alcançam o sucesso na Fórmula 1 de hoje em dia justamente por causa da logística que aplicam na categoria. Esse negócio de ter uma base na Europa e outra no Japão, definitivamente, não funciona. Ou Honda e Toyota voltam a ser somente fornecedores de motor – um papel que sempre exerceram com muita competência, por sinal – ou confiem num grupo que possa tomar decisões de forma independente dos executivos da fábrica, na Europa. Profissionais competentes, como Mike Gascoyne ou Ross Brawn, perdem tempo em projectos nos quais não tem a liberdade que teriam numa McLaren ou Ferrari. Acho que a Fórmula 1 anda muito dinâmica para a cultura dos japoneses, sempre metódicos e de decisões a longo prazo. Por isso vemos BMW e Red Bull chegando outro dia e já colhendo resultados que os japoneses jamais obtiveram. E olha que seus orçamentos costumam ser dos mais altos da Fórmula 1...

19 – Ficaste satisfeito com a solução arranjada pela Honda, de uma Brawn Grand Prix, e pela escolha de Barrichello em detrimento de Bruno Senna?

Sim. Ross Brawn é competente e inteligente, além de experiente para liderar uma corporação que pretende ser vencedora. A escolha dos pilotos também foi correcta, optando pelo tempo de pista que possuem Jenson Button e Rubens Barrichello. Bruno Senna ainda terá sua oportunidade, talvez nesta mesma equipe. O brasileiro está sendo sondado pela Mercedes e, além da McLaren e Brawn GP, os alemães ainda fornecem motores para a Force India. Ou seja, vagas não faltarão. No momento, acho que Senna até atrapalharia o novo time, uma vez que jamais alinhou num GP. Mas creio que o sobrinho do tricampeão possa ter uma carreira de mais sucesso que as de Button e Barrichello.

20 - Max Mosley anunciou agora que fez um acordo com a Cosworth para fornecer motores ás equipas, a dez milhões de euros por ano. A FOTA (Formula One Teams Association) concordou em reduzir os custos. Achas que é este o caminho, uma Formula 1 com custos controlados?

O segundo post da história do Motorizado foi intitulado de “Não ao motor padronizado”. Era um desabafo sobre esta tendência que anda corroendo a categoria. Corte de custos, padronizações, etc. Nada disso combina com a Fórmula 1, que sempre representou a vanguarda da tecnologia no mundo da velocidade. Porém, para uma realidade imediata, a idéia não é ruim, não. À primeira vista, parece terrível conceber que montadoras como Mercedes, BMW ou Toyota possam competir com motores Cosworth padrão. Afinal, aonde estariam com a cabeça os executivos destas mega empresas? Fazer propaganda de uma montadora concorrente em seus próprios carros? Mas não é bem assim. A Cosworth foi escolhida para fazer um motor padrão às equipes independentes. Estas comprariam suas unidades a um custo mais baixo (dez milhões de euros por ano, como você mesmo lembrou). Já as montadoras, continuariam fabricando seus motores, mas com especificações semelhantes as do projecto da Cosworth. Aí não vejo problema algum. É uma medida benéfica e que pode ajudar na saúde financeira de times tradicionais, como a Williams, que andam sempre a beira de um colapso. Além disso, no campo político, poderia acabar com a dependência dos times independentes às montadoras que lhes fornecem motores. No caso da própria Williams, ela cede um de seus cockpits a um piloto da Toyota (Kazuki Nakajima), em troca de preços mais acessíveis dos propulsores japoneses. Neste caso, optando pelos Cosworth, a Williams teria mais liberdade para a escolha de sua dupla.

21 – E o sistema de medalhas, proposto pelo Bernie Ecclestone? Achas uma boa ideia ou apenas um disparate proveniente de um homem já senil?

Não, essa não dá, mesmo! Outro dia, assistindo a rodada dupla da A1GP na África do Sul, em Gauteng, me surpreendi com a premiação do pódio. Os três primeiros ganham medalhas de ouro, prata e bronze. Porém, o regulamento que vigora por lá é de pontos corridos. No caso da idéia de Ecclestone, não existiria mais a distribuição de pontos. Quem vencesse mais corridas seria proclamado campeão. Isso quer dizer que, numa temporada de 18 corridas, se um piloto vencesse as 10 primeiras, as oito restantes seriam apenas exibições amistosas. Em 2004, Schumacher conseguiu algo parecido, com 11 vitórias nas primeiras 12 provas. Ainda assim, com o actual sistema de pontuação, a temporada só foi terminar no GP da Bélgica, a quatro rodadas para o fim do certame. É melhor deixar como está, não?

22 - O que achou até agora dos novos carros de 2009?

Horrorosos. Tomara que os regulamentos aerodinâmicos surtam o efeito desejado, dando uma nova dinâmica nas corridas e aumentando as ultrapassagens e as emoções. Caso contrário, pode passar uma borracha em 2009 e voltar a 2008.

23 - Que ideia é que ficaste dos testes da pré-época? Esperas uma temporada de 2009 equilibrada ou imprevisivel?

Imprevisível, por conta dos resultados dos testes. Cada dia uma equipe lidera os ensaios. Além do mais, a BrawnGP andando bem é uma surpresa. No exato instante em que te escrevo estas linhas, Jenson Button fecha a jornada de quarta-feira sendo 1s mais rápido que a Ferrari de Massa. Falando na Scuderia, ela me parece ser o time mais consistente, mas Toyota e BMW também estão fazendo bonito. Por fora, diria que correm Red Bull e Renault. Já a McLaren está bem cotada para ser o fiasco do ano. A BrawnGP será a maior surpresa. Andando bem, causará espanto pela rapidez com que triunfou. Se andar mal, será totalmente o oposto dos treinamentos desta semana, o que chamará a atenção também. Enfim, essa pergunta poderia ser melhor respondida depois do dia 27 de março...

24 - Com isto tudo, quem é o teu favorito ao título mundial?

É complicado. Veja o exemplo dos últimos anos. Em 2006, a Ferrari estava em baixa, começou mal e Schumacher só não foi campeão por causa de um motor queimado, no Japão. Em 2007, todos davam como favas contadas o duelo interno da McLaren. Hamilton não teria a menor chance contra o espanhol e, ao final do ano, só não alcançou a taça por erros bobos. Já em 2008, Kimi Raikkonen tinha tudo para caminhar facilmente na trilha do bi, mas... sucumbiu diante de um desacreditado Felipe Massa. E Hamilton acabou campeão, sendo bem menos espetacular que no ano de sua estréia. O que quero dizer com isso? Simples. A julgar por agora, a realidade é uma. Talvez em abril, seja outra completamente diferente. Desculpem, ficarei devendo esta resposta. Favoritos, mesmo, só depois das primeiras corridas de 2009.

25 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?

Sim, concordo. Sinto exactamente isso. Aliás, que longa espera é essa entre uma temporada e outra, hein? Creio que é o pior momento para aqueles que acompanham a Fórmula 1. Sinto-me um morto em vida.

26 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?

A sensação de acelerar um kart é indescritível. Tudo parece mágico. O barulho do motor, a vibração do cockpit, deslizar nas curvas e acelerar nas retas, bem como controlar o bicho nas zebras e nas ondulações da superfície. Fora o risco de um acidente, o que torna tudo mais desafiador. Não basta ser rápido, tem que chegar ao final. Vivo e sem um arranhão, de preferência. É diferente de qualquer outra actividade.

27 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?

Sim. De 1950 ao início da década de 80, (risos). Se bem que, se tivesse vivido tudo isso, já seria um velhinho. E, no auge de meus 27 anos, tenho a expectativa de poder desfrutar de muitas temporadas pela frente.

28 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?

Vi pela primeira vez numa indicação do L.A. Pandini, do GP Total. Ele integrava a Rádio F1naWeb e, após ouvir a edição, corri para o site dele e vi as imagens. A impressão que dá é que, a qualquer momento, um dos dois sairá da pista ou estampará um muro. Mas a habilidade de ambos impressiona. Tentaram comparar esta passagem com o duelo entre Massa e Kubica no GP do Japão de 2007. Mas é diferente. No caso mais recente, além da chuva, a pista de Fuji proporciona áreas de escape muito maiores. Massa, inclusive, só ganha a posição ao final porque tracciona melhor numa delas. Na França, em 79, foi tudo bem mais natural. E valendo o segundo posto, não o quinto...

29 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?

Acredito que existe uma mitificação enorme em torno de Gilles. Isso geralmente ocorre com pilotos que morrem nas pistas. O caso mais conhecido por todos nós foi de Ayrton Senna. Aliás, Gilles era um dos ídolos do brasileiro. Não acho que Gilles foi o melhor, mas sim o mais espectacular. Era um “showman”! O próprio acidente fatal dele é uma imagem cinematográfica, com o devido respeito a sua memória e a seus fãs.

30 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?

Cara, tenho uma história bastante curiosa com relação a simuladores. Precisaria de algumas páginas para descrever tudo que já vivi neles. Fui apresentado ao World Circuit, de Geoff Cramond, em 1994, por meu primo Luciano. Disputamos campeonatos aos montes na casa de minha saudosa avó Celina, em Laranjeiras. Anos depois, quando ganhei um computador, comprei o GP2, que simulava a temporada de 1994. Meu primo e eu, além de um amigo, Francisco Sonilton, duelamos novamente. Isso foi em 2000 e sobre esses campeonatos produzi dois anuários, uma espécie de resumão sobre o evento em questão. Tenho eles até hoje no armário de meu quarto na casa de meu pai. Depois veio o GP3, o qual joguei compulsivamente entre 2002 e 2006. Simulei uma carreira, na qual começava em 1985, na Tyrrell, e terminava numa equipe própria, em 2009, a Marcel’s F1. Já o GP4 foi o auge. Junto dos mesmos Luciano e Sonilton, além de amigos como Eduardo Prado e Thiago Magalhães, virávamos noite jogando o simulador. Fazíamos regras, punições, alterávamos a pontuação. Era uma zona. Altas discussões sobre acidentes! Só faltava a galera sair no tapa. Chegamos a pegar um mini-gravador e fazer entrevistas entre nós mesmos. Era um barato. Infelizmente, a galera não se junta mais. No entanto, estou aguardando com ansiedade o lançamento da Codemaster, previsto para o ano de 2009.

31 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera?

Sinceramente? NADA! Mas por duas vezes um blog chegou a nos indicar. O Café com F1 e o Análise F1. Eles ganharam um prêmio das meninas do Octeto e tinham que indicar 15 blogs de suas preferências. O Motorizado e eu ficamos muito orgulhosos de sermos lembrados, apesar da pouca divulgação e do pequeno tempo de vida.

32 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?

Os garagistas são a essência daquilo lá! Frank Williams é um ídolo para mim, uma vez que sustenta sua equipe, numa cadeira de rodas, ainda que venha perdendo dinheiro nos últimos anos. Chegou a vender sua colecção de carros antigos para turbinar o orçamento do time. Se não me engano, isso foi em 2006. Qualquer montadora, ao primeiro prejuízo, pula fora sem a menor cerimónia. Eles não amam a Fórmula 1. Tem nela apenas uma óptima ferramenta de marketing e de desenvolvimento de novas tecnologias. Por outro lado, têm muito mais dinheiro que qualquer garagista. Portanto, se chegarem (como chegaram) com caminhões de dinheiro, se dispondo a ter uma equipe, o farão. Podem até não obter os resultados esperados, mas tomarão o espaço dos garagistas. Pior: encarecerão o espectáculo, como fizeram com a F1 nesta última década. Assim, fica difícil para os independentes sobreviverem. Não é uma questão de escolher: só garagistas ou só montadoras. Tem de haver um equilíbrio. A Fórmula 1 parece que ainda não conseguiu encontrá-lo e sofre com a crise mais do que deveria. Categorias como MotoGP, NASCAR e Indy conseguiram encontrar soluções interessantes para estes problemas. Espero que a F1 também consiga, pois é triste saber que a grelha para o GP de Melbourne do próximo mês pode contar com somente 18 carros.

33 – Já agora, que impressão é que ficaste do novo Autódromo de Portimão?

Além de bonito e muito bem localizado, estou sabendo que Tony Teixeira, dono e idealizador da A1GP, comprou um enorme terreno naquela região e pretende fazer ali a fábrica de sua equipe de Fórmula 1. A pista é bastante seletiva, tem um asfalto impecável e uma parte em subida bastante cinematográfica. Tem tudo para entrar no calendário, já em 2010. Estou torcendo por isso.

34 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?

Pra mim, Lucas di Grassi é o melhor deles. Senna e Piquet carregam sobrenomes de peso o que claramente os ajudam a obter vagas em quaisquer categorias. Mas a forma como Di Grassi domina um carro da GP2 é fenomenal. A facilidade dele em tornar a mediana Campos Racing numa vencedora de GPs e campeã de construtores no ano passado, me impressionou bastante. Já Nelsinho, acho até que terá vida curta na Fórmula 1. Tomar 18x0, mesmo que seja do Alonso, não é um bom cartão de visita. Com excepção do GP do Japão, onde terminou em quarto, pressionando o campeão Raikkonen, não lembro de nenhuma performance digna de aplausos dele. O pódio na Alemanha não conta. Foi um bom resultado, mas que não demonstrou excelência de desempenho. Bruno Senna é uma grande incógnita. Ficou 10 anos parado, pois sua família o proibiu de correr depois da morte do tio. É a fase em que o garoto aprende as manhas, os truques, tudo. E ele não passou por nada disso. Talvez esteja aí a explicação de Senna ainda não ter nenhum título em sua curta carreira.

35 - Que impressão é que ficas do novo projecto de Ken Anderson e Peter Windsor, a USF1? Achas que deve ser levado a sério?

Lançaram a equipe de forma oficial nesta semana e parece que estarão mesmo no grid em 2010. Ainda não apresentaram a equipe técnica, nem pilotos. Mas há tempo para buscar isso. Falta um ano para a temporada do ano que vem começar... Mas estou levando fé, muito mais que nesses boatos que surgem todos os dias sobre a compra da Honda. Enfim, já são uma realidade. Mostraram a cara, tem site oficial, anunciaram planos, etc…

36 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?

Sim. Ainda não sei manejar muito bem este blog. Não consigo incluir nada além de links ou posts. Gostaria de aproveitar melhor a barra lateral, incluindo banners, etc. Eu sou o responsável pelo Motorizado. Na minha família, ninguém gosta do assunto. Meus amigos também não curtem. Portanto, tenho que me virar sozinho. Estou aberto a parcerias com outros blogs, sejam de jornalistas ou não. Adoro falar, escrever e pensar sobre automobilismo. E adoraria dividir uma “mesa-redonda” com quem se dispusesse a comentar o dia-a-dia das categorias mundo a fora.
Para encerrar, gostaria de agradecer a oportunidade desta entrevista. Acho que cheguei a ler na íntegra todas as que já fizeste com os blogueiros. É uma iniciativa original. Ficava me imaginando, um dia, sendo entrevistado. E não é que a hora chegou? E eu nem esperava que isso fosse acontecer. Obrigado mais uma vez. Vamos trocar muitas figurinhas daqui pra frente!

Já agora, se quiserem ver as entrevistas anteriores, carreguem nos respectivos links:

19 de Novembro 2008 - Priscilla Bar (Blog Guard Rail)
22 de Novembro 2008 - Marcos Antônio Filho (GP Series)
29 de Novembro 2008 - Hugo Becker (Motor Home)
6 de Dezembro 2008 - Rianov Albinov (F1 Nostalgia)
10 de Dezembro 2008 - Jorge Pezzolo (jpezzolo.com)
13 de Dezembro 2008 - Ron Groo (Blog do Groo)
17 de Dezembro 2008 - João Carlos Viana (jcspeedway)
20 de Dezembro 2008 - Felipão (Blogspot Brasil)
3 de Janeiro de 2009 - José António (4 Rodinhas)
7 de Janeiro de 2009 - Germano Caldeira (Blog 4x4)
10 de Janeiro de 2009 - Felipe Maciel (Blog F-1)
17 de Janeiro de 2009 - Thiago Raposo (Café com Formula 1)
21 de Janeiro de 2009 - Orroe (N U R B U R G R I N G)
24 de Janeiro de 2009 - Sávio Machado (SAVIOMACHADO)
28 de Janeiro de 2009 - Javi G. (Zone F1)
31 de Janeiro de 2009 - Gabriel Lima (Speed N'Thrash)
4 de Fevereiro de 2009 - Bruno Mantovani (Mantovani.zip.net)
14 de Fevereiro de 2009 - Luiz Alberto Pandini (Pandini GP)
18 de Fevereiro de 2009 - Gonçalo Sousa Cabral (16 Valvulas)
28 de Fevereiro de 2009 - Babi Fanzin (Velocidade.org)
4 de Março de 2009 - Kimi Cris (Galáxia F-1)
7 de Março de 2009 - Maria Quiroga (F1 by Mai)

1 comentário:

Ylan Marcel disse...

Obrigado, Speeder. Na introdução, vc resumiu, como poucos, minha breve carreira. Aquele abraço!