segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os dez grandes momentos (ou nem por isso) de Andrea de Cesaris - Parte 1

Como sabem, o passado dia 5 de outubro foi dos mais tristes do automobilismo. Para além do acidente de Jules Bianchi, soubemos pela hora do jantar na Europa da morte de Andrea de Cesaris, um dos pilotos que marcou os anos 80 na Formula 1. Com fama de ser veloz, mas muito bruto a cuidar dos carros, ganhou fama por ter destruído mais de vinte chassis durante o ano em que esteve na McLaren, em 1981, que resultou no seu despedimento no final daquela temporada.

Mas isso não foi o fim da sua carreira na Formula 1, pelo contrário: 204 Grandes Prémios, em 15 temporadas, dez equipas - com duplas passagens pela Alfa Romeo e pela Jordan - uma pole-position, uma volta mais rápida e cinco pódios, deu uma longevidade inesperada, e o transformou numa das referências do pelotão, para quem deu o nome de "De Crasheris".

Para o recordar, falamos aqui dos dez grandes momentos do piloto de Roma ao longo da sua carreira. Uns bons, outros... nem tanto. Hoje meto os cinco primeiros, e amanhã o resto


1 -  Holanda 1981


Andrea de Cesaris foi para a McLaren como o escolhido por Ron Dennis, que tinha comprado e fundido a sua equipa Project Four com a marca gerida por Teddy Mayer e tinha John Watson como piloto. Apesar de ser veloz, em quase todos os fins de semana de Grande Prémio, acabava a danificar um chassis, ora nos treinos, ora na corrida. Até poderia ser um bom teste para o modelo MP4/1, o primeiro chassis de fibra de carbono, mas este era sempre usado pelo outro piloto da marca, o britânico John Watson. Até que em Zandvoort, palco do GP da Holanda, as coisas chegaram a um ponto grave.

No fim de semana holandês, a McLaren tinha quatro chassis, dois deles velhos M30. Por essa altura, ele já tinha danificado… 16 chassis, e os seus mecânicos tinham passado noites sem dormir a recuperar os carros para que ele pudesse andar… e destruir o carro. Na Holanda, De Cesaris tinha batido na sexta e no sábado, uma delas na Curva Tarzan, com o carro habitual e com um dos “muletos”, a equipa entrou em pânico quando viram que só tinha um carro para Watson. No final, apesar de ter conseguido o 13º tempo, eles impediram-no de alinhar na corrida. Então, já a fama de “De Crasheris” tinha sido estabelecida, e iria acompanhá-lo para o resto da sua carreira.

Anos depois, em 2010, numa rara entrevista concedida a Rob Widdows, da Motorsport britânica, refutou a acusação: “Houve estórias de que os mecânicos recusaram a reparar o meu carro. Isso é treta. Na realidade, o carro de reserva foi para o John [John Watson] e era esse o combinado, então, fiquei sem carro.”, comentou.


2 – Long Beach 1982


No final de 1981, Andrea de Cesaris fora despedido da McLaren sem apelo, nem agravo, e regressou à equipa que lhe deu a sua primeira chance na Formula 1, a Alfa Romeo. A equipa estreou o seu novo chassis em Jacarépaguá, o 182, mas foi na corrida seguinte, em Long Beach, que De Cesaris teve a sua coroa de glória.

A equipa naquele ano tinha pneus Michelin, e naquela pista tinha vantagem sobre os Goodyear, e um dos que sabia disso era Niki Lauda. Ao ver isso, usou apenas um set de pneus e fez o melhor tempo na sessão de sábado, que ficou por muito tempo com a pole-position. Contudo, a três minutos do final da sessão, De Cesaris deu o seu melhor e conseguiu um tempo 12 centésimos melhor do que Lauda, conseguindo assim a sua primeira – e única pole-position da sua carreira. E teve sorte, pois no inicio da sessão… tinha batido com o carro.

A corrida foi ligeiramente diferente. De Cesaris liderou nas primeiras 15 voltas da corrida, pressionado por Lauda, até que ficou atrás do March de Raul Boesel, quando estava a tentar dobrá-lo, e o austríaco aproveitou a chance para o ultrapassar, afastando-se depois. De Cesaris estava a caminho do segundo posto quando o seu carro começou a apresentar problemas de travões, e despistou-se na volta 34, batendo no muro na Curva 4, terminando ali a sua corrida.   


3 – Mónaco 1982


É uma corrida que está definitivamente no folclore da Formula 1. Em tempos difíceis para a modalidade naquela temporada – o boicote de Imola e o acidente mortal de Gilles Villeneuve em Zolder – as coisas no Mónaco foram também memoráveis, mas por outras razões. Largando do sétimo posto na grelha – Bruno Giacomelli era o terceiro – De Cesaris teve uma boa corrida, andando no quarto lugar durante grande parte da corrida, atrás de Prost, Pironi e Patrese.

Contudo, a cinco voltas do fim, começa a cair uma chuva fina, que torna a pista escorregadia, e o francês da Renault perde o controlo do seu carro pouco depois da chicane do Porto. Didier Pironi fica com o comando, mas têm problemas e cede a liderança para Riccardo Patrese que… faz um pião no gancho de Loews. A confusão está instalada e parece que o comando é para… De Cesaris, que na última volta parecia ir direito para uma vitória improvável, semanas depois do feito de Long Beach. Mas o motor Alfa Romeo V12 era beberrão e quando está a subir na Massenet… fica sem gasolina, deixando-o desconsolado.

Mas nem tudo foi mau: no meio daquela confusão, descobre-se que De Cesaris acaba a corrida no terceiro lugar e celebra o seu primeiro pódio da carreira, atrás de Ricciardo Patrese e de Didier Pironi… que também tinha ficado sem gasolina. 


4 – Áustria 1982


Se os dois exemplos anteriores foram coroas de glória para o italiano, este foi um ponto baixo para ele. A sua corrida em Zeltweg durou algumas dezenas de metros, acabando por embater… no carro de Bruno Giacomelli, o seu companheiro de equipa. Provavelmente um dos acidentes mais bizarros daquela temporada, colocou ambos os Alfa Romeo fora de combate numa corrida que acabou por ser ganha por Élio de Angelis, no seu Lotus.

Giacomelli – que era grande amigo de De Cesaris – disse anos depois que não se falaram por um tempo, pois julgava que tinha sido ele a causar o acidente.

Andrea tinha a certeza que era o culpado, mas eu sabia que estava inocente. Em seguida, um fotógrafo que estava no “paddock” veio com algumas fotos da partida que mostrou que ele tinha tocado no Williams do [Derek] Daly, que o empurrou para mim e para o guardrail. Mas você sabe, a coisa boa sobre o Andrea foi que quando viu as fotos, ele virou para mim e disse: 'Bruno, estou arrependido, você estava certo, peço desculpa'. Como te digo, Andrea foi muito correto e honesto comigo e também não tenho muito orgulho de dizer que ele estava errado.", comentou o ex-piloto, companheiro dele na temporada de 1982, à Motorsport britânica.


5 – Bélgica 1983


Na temporada de 1983, a Alfa Romeo apresentada o modelo 183, desenhado por Gerard Ducarouge, e parecia ser um melhor modelo do que o anterior, além de que o novo motor V8 Turbo era potente, mas beberrão, compensado pelo facto de naquele ano, os reabastecimentos eram permitidos.

Naquele ano, depois de 13 anos de ausência, o circuito de Spa-Francochamps voltava ao calendário da Formula 1, apóis trabalhos de remodelação que levaram ao encurtamento da pista para quase sete quilómetros de extensão. Isso favorecia os motores mais potentes e na qualificação, De Cesaris foi o terceiro mais rápido na sexta-feira, atrás de Alain Prost e do Ferrari de Patrick Tambay.

Com o sábado desperdiçado devido à chuva, a grelha manteve-se e no dia da corrida, De Cesaris estava na segunda fila, e na partida, conseguiu superar os dois pilotos e partir na frente… mas atrás, reinava a confusão. Três carros ficaram parados e o resto do pelotão ia em passeio, logo, a bandeira vermelha foi imediatamente mostrada.

Pouco depois nova partida e… De Cesaris salta para a liderança, aproveitando uma má largada de Prost. O italiano fica na liderança e afasta-se de Prost, começando a liderar com vantagem até à sua paragem nas boxes, onde teve problemas e perdeu 25 segundos, sendo superado por Tambay, que parava na mesma altura. Saindo na pista no terceiro lugar, a sua corrida não iria durar muito mais pois na volta 25, o injetor do seu Alfa Romeo rompeu-se, não sem antes fazer a volta mais rápida da corrida, a única do seu palmarés.

(continua amanhã)

1 comentário:

Tiago disse...

Parabéns pelo artigo!
a primeira foto merecia uma alternativa, é a famosa foto em que o Bibendum da Michelin foge dos pneus lançados pelo De Cesaris:
http://i183.photobucket.com/albums/x207/Starcowboy/stuff/291780122zv3.jpg

Um abraço, Tiago