terça-feira, 6 de outubro de 2015

A imagem do dia

Até 1985, Nigel Mansell era considerado como um piloto veloz, mas inconstante. E alguns já diziam que ele tinha passado ao lado de uma brilhante carreira, principalmente quando não conseguiu aproveitar as oportunidades que teve na Lotus. Muitos apostavam as fichas num compatriota seu, um tal de Derek Warwick.

Nascido em 1953, Mansell teve uma carreira atribulada nas formulas de promoção. Veloz, mas dado a acidentes, correu muito na Formula Ford, Formula 3 e Formula 2 (fraturou a coluna vertebral em 1979 numa corrida de Formula 3) até que Colin Chapman decidiu dar-lhe uma chance. Acabou como piloto de testes, mas ele fazia as coisas tão velozmente que teve a sua primeira grande chance em 1980, com o terceiro carro da equipa por três corridas, antes de ser piloto a tempo inteiro em 1981. Nesse ano, em substituição de Mário Andretti, teve uma evolução interessante, embora raramente batesse Elio de Angelis, o seu companheiro de equipa.


Mansell via em Chapman um "father figure", alguém que o incentivava a fazer melhor. Este via que tinha potencial de campeão, desde que refinasse a sua rapidez e agressividade. Contudo, Chapman pagava-lhe mal: ganhava apenas 50 mil libras por ano, e o britânico aceitou uma proposta de dez mil libras para correr em Le Mans. Chapman, que detestava a clássica de Endurance, decidiu oferecer o mesmo dinheiro... para não correr. Mas depois disso, ofereceu-lhe um contrato milionário, que garantia que iria ficar na equipa até ao final da temporada de 1984. 

Chapman queria fazer de Mansell outro Jim Clark, mas não teve tempo para isso, pois morreu em dezembro de 1982, depois de uma temporada em que o "brutânico" conseguiu um terceiro lugar e sete pontos no campeonato. O sucessor de Chapman, Peter Warr, nunca gostou de Mansell e no final de 1983, não o libertou da Lotus porque a John Player Special queria que a equipa tivesse um piloto inglês. E Derek Warwick ia para a Renault nesse ano.

Na sua biografia, Warr analisou os pilotos da Lotus no final de 1982 e deu a sua sentença: "Depois de analisar cuidadosamente a temporada, ficou completamente claro quem era o número um: era Elio. Ele foi mais rápido, ele tinha superado Nigel dez vezes contra três. Elio tinha tido sete chegadas nos pontos, enquanto que Nigel teve apenas dois, para além da vitória de Elio na Áustria. Ele teve um registo três vezes superior de pontos ganhos em relação a Nigel. E o que é mais imprtante, a margem pela qual Elio eclipsou seu companheiro de equipa na qualificação geral foi um enorme 4,5 por cento. E tudo isso num ano em que, tão próximo quanto razoavelmente possível, os dois pilotos tiveram igual equipamento e tratamento".


Mansell sofreu até ao final do seu contrato, apesar de em 1984 ter tido uma boa temporada, com uma pole-position em Dallas - e o seu final épico - e algumas boas exibições no Mónaco e no Estoril, onde andou nos lugares da frente antes de desistir. Aliás, quando a corrida portuguesa acabou e este arrumou as malas para ir à Williams, Warr sentenciou: "Ele nunca ganhar uma corrida enquanto eu tiver um buraco no meu rabo".

Após se adaptar à Williams e ao motor Honda, a segunda parte da temporada foi bem melhor do que a primeira. Na corrida anterior a Brands Hatch, em Spa-Francochamps, tinha acabado em segundo lugar, apenas batido por Ayrton Senna, o seu substituto na Lotus, e bem mais querido na equipa do que ele.


Brands Hatch, palco do GP da Europa, foi a corrida que mudou a sua carreira. Mas o mais engraçado nessa tarde é que deve essa vitória... ao seu companheiro de equipa. Nas primeiras voltas dessa corrida, o finlandês Keke Rosberg atacava Ayrton Senna pela liderança da corrida, até que na oitava volta, o finlandês tentou ultrapassar. Senna defendeu-se e o pai de Nico Rosberg despistou-se, batendo o Brabham de Nelson Piquet. Este abandonou, e ele perdeu uma volta devido a um furo - o tal toque no Brabham causou estragos. 

Nas boxes, os mecânicos da Williams fizeram-no demorar o tempo suficiente para que entrasse na pista exatamente na frente de Senna, e ele bloqueou-o de forma a que Mansell o passasse. E mesmo quando este fez a manobra, o finlandês aguentou tempo suficiente para que o britânico se afastasse. Em suma, Rosberg "trollou" Senna pois estava convencido que ele o tinha colocado fora da pista de propósito. Curiosamente, no final da corrida, Rosberg acabou no lugar mais baixo do pódio...


Mas no final, era um dia brilhante para Mansell. Aquilo que procurava após cinco temporadas tinha conseguido, ainda por cima no dia em que Alain Prost conseguiu o seu título mundial (na foto tirada por Paul-Henri Cahier). Warr deve ter engolido o seu orgulho e aos olhos dos fãs, não era mais uma esperança adiada, era uma certeza. O que não se sabia era que o tempo iria demonstrar que iria ser um dos pilotos mais marcantes da sua geração.

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