sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Maldonado e os tempos agitados do seu país

Toda a gente sabe que Pastor Maldonado chegou à Formula 1 com uma grande carteira, é mais do que óbvio. E que ele não tem provado muito que merece esse lugar, exceptuando aquela inesperada vitória em Barcelona, em 2012. Quer na Williams, quer na Lotus-Renault, sabe-se que a sua patrocinadora, a estatal venezuelana PDVSA, poderá ter injetado uma média de 50 milhões de dólares por ano desde que chegou à categoria máxima do automobilismo, em 2011, e em 2016, irá entrar para a sua sexta temporada.

Contudo, se de vez em quando se fala dele, não se pode deixar de falar sobre a situação do seu país. É certo que a Formula 1 não fala ou comenta politica, mas Bernie Ecclestone adora a politica de ir a sitios de reputação duvidosa, só pelo cheiro do dinheiro. Contudo, por estes dias, mesmo que ninguém diga em público, comentou-se sobre Maldonado no paddock de Interlagos. Dizendo melhor, comentou-se sobre a segurança desse patrocínio e do país de onde ele vêm... Primeiro que tudo, a Venezuela vai a votos a 6 de dezembro, para escolher um novo parlamento, e a oposição anti-chavista parece liderar as sondagens, apesar das ameaças do seu presidente de que não irá reconhecer os resultados em caso de derrota, e já ameaçou que irá meter tropas na rua para impor o seu poder.

Eis a situação politica e económica naquelas bandas para tentar entender porque é que o lugar de Maldonado pode estar (mais uma vez) em perigo. Na semana passada, dois sobrinhos de Nicolas Maduro foram presos no Haiti pela DEA americana, pois levavam consigo um carregamento de 800 quilos de cocaína. Ambos foram imediatamente levados para Nova Iorque, onde aguardam julgamento por tráfico de droga. Este incidente só veio aumentar os rumores de que a Venezuela tornou-se num narco-estado, onde não sendo produtor de cocaína (o grande produtor è a Colômbia), este usa o país como passagem até aos Estados Unidos. E tudo isso com a conivência (e provavelmente o envolvimento) do governo chavista.

Para piorar as coisas, o país encaminha para o clube dos estados falhados: há anos que sofre de uma escassez de alimentos devido a problemas de abastecimento, vive com uma inflação estratosférica (números não oficiais indicam que esta poderá rondar os... 800 por cento) e um PIB que só este ano irá contrair cerca de dez por cento, acumulando com outros sete por cento de contração que teve em 2014. E acumulado com isso tudo, os elevados índices de violência (é o terceiro país mais violento da América Latina, apenas superado por Honduras e El Salvador), e a agitação politica entre o poder e a oposição, que recentemente condenou um dos seus líderes, Leopoldo Lopez, a 13 anos de prisão, num processo que todos consideraram politico. Tanto que o procurador que o acusou, exilou-se recentemente em Espanha, afirmando que o governo "plantou provas" para o condenar.

E tudo isto acontece numa altura em que o preço do petróleo está em níveis muito baixos, um terço do que valia em julho de 2014. Esta quarta-feira, o barril de Brent baixou dos 40 dólares em Nova Iorque e não há sinais de um aumento significativo do preço do barril nos próximos tempos. Os principais países produtores não dão sinal de diminuir a produção, que está num máximo histórico, numa espécie de guerra económica para saber quem se arruinará primeiro. Se Arábia Saudita e Qatar tem bolsos bem fundos, por aquilo que acumularam ao longo destes anos, já a Venezuela ou Angola, por exemplo, andaram a gastar em infraestruturas ou até a "comprar regimes", dando petróleo a preços mais baratos em troca do seu silêncio quando eles se envolviam em esquemas duvidosos.

Com tudo isto em cima da mesa, muitos apontam este exemplo como mais um de que a Formula 1 é sedenta de dinheiro, aceitando tudo que venha de sitios duvidosos, principalmente dos governos que enriqueceram com a alta do petróleo, para não falar dos regimes de "homem forte", daqueles que Bernie Ecclestone adora. Mas se muitos não entendem a razão porque uma petrolifera continue a injetar dinheiro, apesar das dificuldades, outros entendem que a presença de um piloto como ele só pode ser entendido como a politica de um país que se quer mostrar ao mundo E enquanto o regime quiser, Maldonado se manterá. Resta saber por quanto tempo mais este regime se manterá...   

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